Neste mês de dezembro o seminarista Wellington escreveu a respeito da serva de Deus Irmã Dorothy Stang
Da árvore
da vida ao madeiro da cruz
A criação é
fruto do amor divino, de um transbordamento trinitário. Deus cria o mundo do
nada e contempla a beleza de sua criação: Ele viu que tudo era muito bom (Gn
1,31).
Segundo o
livro do Gênesis, Deus plantou um jardim e nele colocou o homem e a mulher,
coroamento de sua obra. No meio do Jardim do Éden, o Criador fez brotar a
árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal (2,9). Dos frutos da
árvore do conhecimento do bem e do mal, o homem e a mulher estavam proibidos de
comer, conforme o mandato divino (Gn 2,17). Contudo, impulsionados por um
desejo incessante de poder ser “iguais a Deus” (Gn 3,5), a mulher e o homem
comem do fruto proibido. Por conseguinte, o pecado entra no mundo pela violação
de uma árvore.
Porém, este
não é o fim. Deus promete uma descendência que esmagará o mal (Gn 3,15). Esta
promessa se cumprirá plenamente no envio do Filho Unigênito de Deus ao mundo.
Ele trará alegria novamente ao Jardim, restituindo sua integridade. Todavia, a
árvore da vida fora preservada (Gn 3,22), pois esta é inviolável.
Na história do
cristianismo não nos faltam testemunhos de homens e mulheres que contemplaram
na criação a ação do Criador. Francisco de Assis é, sem dúvida, o testemunho
mais conhecido, mas não o único. Conhecemos na atualidade de nosso país a
figura de uma mulher que fez tal experiência e testemunhou a fé no Criador:
Irmã Dorothy Stang. A vida desta religiosa esteve voltada para a preservação da
“Árvore da vida”. Sua fé era capaz de perceber que “a morte da floresta é o fim
da nossa vida”.
Dorothy Mae
Stang nasceu em 7 de junho de 1931, em Dayton, nos Estados Unidos. Entrou para
vida religiosa ainda muito jovem, em 1948, na Congregação
das Irmãs de Nossa Senhora de Namur. Professou os votos perpétuos no ano de
1956.
Irmã Dorothy
foi professora por quinze anos (de 1951 a 1966) em escolas da congregação. Iniciou
sua vida missionária no Brasil em 1966, na cidade de Coroatá, no estado do
Maranhão. O trabalho pastoral da missionária ficou conhecido após se
estabelecer na Região do Xingu, na Amazônia. Junto às famílias carentes e aos
trabalhadores rurais da Transamazônica, a religiosa, impulsionada por
atividades de cunho ecológico, buscou a geração de emprego e renda com projetos
de reflorestamento em áreas degradadas. Seu trabalho pastoral também se voltava
para a minimização dos conflitos fundiários na região. Devido a este impulso
evangélico, atuou nos movimentos sociais no Pará. A sua participação em
projetos voltados para o desenvolvimento sustentável ficou sendo reconhecido
por várias regiões do Brasil e do mundo, ultrapassando os limites da pequena
Vila de Sucupira, em Anapu/PA.
Como membro da
Pastoral da Terra, assumiu a luta dos trabalhadores de campo, promovendo uma
reforma agrária mais justa. Seu ministério pastoral teve forte repercussão
política, entrando em conflitos relacionados à posse e à exploração da terra na
Região Amazônica. Por isso, Irmã Dorothy recebia diversas ameaças de morte; mas
isso não a intimidava: estava convicta pela luta em defesa dos direitos
humanos.
Sua opção acarretou o grande motivo de seu martírio. No dia 12 de
fevereiro de 2005, pela manhã, aos 73 anos de idade, Irmã Dorothy foi
assassinada com seis tiros. Assim relata o testemunho da teóloga Maria Clara
Bingemer: “As 600 famílias que compunham a comunidade de Ir. Dorothy se
encontram neste momento órfãs da maternidade espiritual e pastoral dessa
corajosa mulher [...] No seio da terra que tanto amou, o corpo de Ir. Dorothy
descansa, velado pela dor dos companheiros”.
No dia anterior à sua morte, a
religiosa sentiu as angústias do Horto. Junto às “Oliveiras” da Amazônia,
acompanhada apenas de uma irmã religiosa recém instalada, Ir. Dorothy sofreu a
angústia da morte: pressentiu ter chegado o momento de sua entrega total. A
religiosa sabia que iria sofrer o martírio. Seu coração abatido participava da
experiência vivida por seu Mestre Jesus.
A crucificação de Jesus nos remete ao restabelecimento da vida, que, por
sua vez, passa pela experiência da morte. O madeiro da cruz abraçado por
Cristo, sem vida e sem beleza, brotou pelo seu sangue, trazendo novo sentido à
humanidade e a toda criação: “de fato, toda criação espera ansiosamente a
revelação dos filhos de Deus. Também a própria criação espera ser libertada da
escravidão da corrupção, em vista da liberdade que é a glória dos filhos de
Deus” (Rm 8,19.21).
O sangue da missionária tornou-se também fecundo nas terras exploradas da
Amazônia. É para nós sinal do Reino de Deus. E a todos os que conservarem a
vida serão, como Irmão Dorothy, recompensados por Deus: “Ao vencedor darei como
prêmio comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus” (Ap 2,7). Cabe, a
cada um de nós, a preservação da árvore da vida, o amor ao Criador e ao dom de
sua criação, garantindo a sacralidade da vida e sua inviolabilidade. Que o
testemunho de fé da Irmã Dorothy nos impulsione nesta missão.
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