07 maio 2013

O culto devido a Maria como Mãe da Igreja



Maria Santíssima, Mãe espiritual perfeita da Igreja
A primeira verdade é esta: Maria é Mãe da Igreja não apenas por ser Mãe de Jesus Cristo e Sua muito íntima colaboradora na «nova economia, quando o Filho de Deus assume d'Ela a natureza humana, para libertar o homem do pecado» mediante os mistérios da Sua carne (L.G. 55), mas também porque «refulge em toda a comunidade dos eleitos como modelo de virtude» (cfr. L.G. 65 também o n. 63). Como, na verdade, cada mãe humana não pode limitar a sua missão à geração de um novo homem mas deve alargá-la à nutrição e à educação, assim se comporta também a bem-aventurada Virgem Maria. Depois de ter participado no sacrifício redentor do Filho, e de maneira tão íntima que lhe fez merecer ser por Ele proclamada Mãe não só do discípulo João, mas — seja consentido afirmá-lo— do género humano, por aquele de algum modo representado, Ela continua agora no céu a cumprir a missão que teve na terra de cooperadora no nascimento e desenvolvimento da vida divina em cada alma dos homens remidos. Esta é uma consoladora verdade, que por ser livre beneplácito de Deus sapientíssimo faz parte integrante do mistério da salvação humana; por isso ela deve ser considerada como de fé por todos os cristãos.

Maria Mãe espiritual mediante a sua intercessão junto do Filho
Mas de que modo coopera Maria no crescimento dos membros do Corpo Místico na vida da graça? Em primeiro lugar mediante a sua incessante súplica, inspirada por uma ardente caridade. A Virgem Santa, embora feliz pela visão da augusta Trindade, não esquece os seus filhos que caminham como Ela outrora na «peregrinação da fé» (L.G. 58). Contemplando-os em Deus e vendo bem as suas necessidades, em comunhão com Jesus Cristo que está «sempre vivo a interceder por eles» (Heb 7,25), deles se constitui Advogada, Auxiliadora, Amparo e Medianeira (cfr. L.G. 62). Desta sua ininterrupta intercessão junto do Filho pelo Povo de Deus, tem estado a Igreja desde os primeiros séculos persuadida, como testemunha esta antiquíssima antífona que, com algumas ligeiras diferenças, faz parte da oração litúrgica tanto no Oriente como no Ocidente: «à tua protecção nos acolhemos ó Mãe de Deus; não desprezes as nossas súplicas nas necessidades, mas salva-nos de todos os perigos ó (tu) que só (és) a bendita». Nem se pense que a intervenção maternal de Maria traga prejuízo à eficácia predominante e insubstituível de Cristo, nosso Salvador; pelo contrário, ela tira a sua força da mediação de Cristo e é dela uma prova luminosa (cfr. L.G. 62).

Maria Educadora da Igreja com a fascinação das suas virtudes
Não se esgota, porém, no patrocínio junto do Filho a cooperação da Mãe da Igreja no desenvolvimento da vida divina nas almas. Ela exerce sobre os homens remidos uma outra influência: a do exemplo. Influência, na verdade, importantíssima, segundo a conhecida máxima: «As palavras movem, mas o exemplo arrasta». Realmente, tal como os ensinamentos dos pais adquirem eficácia bem maior se são apoiados pelo exemplo duma vida dentro das normas da prudência humana e cristã, assim também a suavidade e o encanto das excelsas virtudes da Imaculada Mãe de Deus atraem de maneira irresistível os ânimos para a imitação do divino modelo, Jesus Cristo, de que Ela foi a mais fiel imagem. Por isso o Concílio declarou: «A Igreja, reflectindo piedosamente sobre Maria e contemplando-a à luz do Verbo feito homem, cheia de respeito penetra mais e mais no íntimo do altíssimo mistério da Encarnação e vai tomando cada vez mais a semelhança do seu Esposo» (L.G. 65).

A santidade de Maria, luminoso exemplo de perfeita fidelidade à graça
É bom, além disso, ter presente que a eminente santidade de Maria não foi apenas um dom singular da liberalidade divina: foi também o fruto da contínua e generosa correspondência da sua livre vontade às moções interiores do Espírito Santo. É por motivo da perfeita harmonia entre a graça divina e a actividade da sua natureza humana que a Virgem rendeu suprema glória à Santíssima Trindade e se tornou honra insigne da Igreja, que como tal a saúda na Sagrada Liturgia: «Tu (és) a glória de Jerusalém, tu (és) a alegria de Israel, tu (és) a honra do nosso povo».

Exemplos de virtudes Marianas nas páginas do Evangelho
Nas páginas do Evangelho admiramos os testemunhos de tão sublime harmonia. Maria, logo que obteve a certeza pela voz do Anjo Gabriel que Deus a elegia para Mãe do seu Filho Unigénito, sem qualquer hesitação, deu o seu consentimento para uma obra na qual teria de empregar todas as energias da sua frágil natureza, declarando: «Eis a Serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38). Desde esse momento, Ela consagrou-se inteiramente ao serviço, não apenas do Pai celeste e do Verbo Encarnado, tornado seu Filho, mas também de todo o género humano, pois compreendeu bem que Jesus, além de salvar o Seu povo da escravidão do pecado, seria o Rei de um Reino messiânico, universal e eterno (cfr.Mc 1,21; Lc 1,33).

Maria, Serva do Senhor, desde a Anunciação até à sua gloriosa Assunção
Por este motivo, a vida da Imaculada Esposa de José, virgem «no parto e depois do parto» — como sempre acreditou e professou a Igreja Católica e como convinha Aquela que tinha sido elevada à dignidade incomparável da maternidade divina —, foi uma vida de perfeita comunhão com o Filho, partilhando com Ele alegrias, dores e triunfos. E mesmo depois de Jesus subir ao céu, ficou unida a Ele por um ardentíssimo amor, enquanto cumpria com fidelidade a nova missão de Mãe espiritual do discípulo predilecto e da Igreja nascente. Pode afirmar-se, assim, que toda a vida da humilde Serva do Senhor, desde o momento em que foi saudada pelo Anjo até à sua assunção em alma e corpo à glória celeste, foi uma vida de amoroso serviço. Associando-nos, portanto, aos Evangelistas, aos Padres e aos Doutores da Igreja, recordados pelo Concílio Ecuménico na Constituição Dogmática «Lumen Gentium» (cap. VIII), cheios de admiração, contemplamos Maria, firme na fé, pronta na obediência, simples na humildade, exultante no louvor do Senhor, ardente na caridade, forte e constante no cumprimento da sua missão até ao holocausto de si própria, em plena comunhão de sentimentos com o seu Filho, que se imolava na Cruz para dar aos homens uma vida nova.

Justo culto de louvor e de gratidão à Mãe da Igreja
Pois bem, perante tanto esplendor de virtudes, o primeiro dever de quantos reconhecem na Mãe de Cristo o modelo da Igreja é o de, em união com Ela, render graças ao Altíssimo por ter realizado em Maria tão grandes obras em benefício da humanidade inteira. Mas não basta. É igualmente dever de todos os fiéis tributarem à fidelíssima Serva do Senhor um culto de louvor, de reconhecimento e de amor, uma vez que, segundo a sapiente e suave disposição divina, o seu livre consentimento e a sua generosa cooperação nos desígnios de Deus tiveram e continuam a ter uma grande influência na realização da salvação humana (cfr. L.G. 56). Por este motivo, cada cristão pode fazer sua a invocação de S. Anselmo: «Ó gloriosa Senhora, faz com que por ti mereçamos chegar até Jesus, teu Filho, que por teu intermédio se dignou descer até nós».


Papa Paulo VI
Exortação Apostólica Signum Magnum 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Destaques