15 outubro 2012

Artigo escrito pelo Pe. Pedro Martendal por acasião dos 30 anos do ITESC



O instituto Teológico de santa Catarina- ITESC (Florianópolis- SC)
 
A fundação do Instituto teológico de Santa Catarina- ITESC em Florianópolis, no ano de 1973, representou o coroamento de um longo, difícil e dedicado esforço. Em 1892, com a criação da Diocese de Curitiba, abrangendo os territórios do Paraná e Santa Catarina, o primeiro bispo Dom José de Camargo Barros provisoriamente optou por continuar no Rio de Janeiro a formação filosófica e teológica dos candidatos ao presbitério. Em seguida, porém, com a criação da Diocese de Florianópolis, em 1908, o primeiro bispo, Dom João Becker, tinha diante de seus olhos o mesmo problema, resolvido positivamente com aceitação, pelos padres jesuítas, de receber os seminaristas no Seminário Conceição, em São Leopoldo/RS, mesmo que alguns candidatos tenham sido enviados a Mariana/ MG. Os jesuítas acolheram paternalmente os catarinenses até a fundação do seminário Maior de Viamão, em 1954, pelo episcopado gaúcho, que aceitou, com a condição de provisoriedade, formar o clero catarinense.
É muito importante salientar que a formação generosamente oferecida pelos padres da Companhia de Jesus foi notável no sentido de formar um clero religioso, eclesial, dedicado e fiel. Foram esses padres que deram uma fisionomia própria à Igreja de Santa Catarina, a disciplina sempre ocupando um lugar eminente, como o desejava Dom Joaquim Domingues de Oliveira, arcebispo entre 1914/1967.
O anúncio do Concílio em 1959 a sua abertura em 1962 fecundavam um desejo de renovação antes oculto e agora colocado diante dos olhos com a bondade profética de João XXIII. Com o final do Concílio vaticano II, repleto dos ventos da abertura ao mundo, do entusiasmo eclesial e da renovação teológica, cria-se em 1965 o Paulinum, em Curitiba, que viria ser o Seminário de formação presbiteral para todo o estado de Santa Catarina.
O Concílio oferecia novos horizontes eclesiais, pastorais e pedagógicos, lançando por terra as seculares certezas e caminhos. Discutia-se agora a imagem e a missão da Igreja, do padre, dos leigos. A preocupação teológica cede bom espaço à preocupação antropológica e pastoral. Toda a admissão é pouca ao se analisar o esforço pedagógico dos formadores e o empenho teológico dos professores. Os velhos manuais davam lugar às novas apostilas, roteiros e experiências. Deste modo o Paulinum oferece à Igreja catarinense um clero renovado e empenhado nas questões do mundo; um clero pastoralista em busca de cautelosa desclericalização.
Todavia a Arquidiocese de Florianópolis, através do seu arcebispo Dom Afonso Niehues, tinha claro que o curso teológico cedo ou tarde passaria a ser ministrado em Florianópolis. Por isso mantinha seis estudantes em Roma fazendo pós- graduação a construída em Florianópolis um pequeno prédio para o Seminário Teológico, denominado Convívio Emaús.
Finalmente em 1973 com muita ousadia e simplicidade, tem inicio o Instituto Teológico de santa Catarina- ITESC, com sede à Rua Deputado Edu Vieira n 600, bem próximo da Universidade Federal de Santa Catarina. Foram sete décadas de projetos, materializados num Instituto para formar o clero catarinense, com a participação de todas as dioceses. A semente cresceu na unidade. Os bispos queriam um Instituto sério academicamente e com forte acento pastoral na linha da conferência de Medellin, comprometido com as transformações sociais, políticas e eclesiais.
Ressalta-se que o ITESC teve inicio num período único da história da Igreja no Brasil, onde convergiam as esperanças e desafios do Concílio Vaticano II, das Conferências do CELAM, da Teologia da Libertação e das CEB’s, das posições proféticas da CNBB, do processo de redemocratização do país, do pontificado de João Paulo II, do fenômeno da pós- modernidade e do advento da Renovação Carismática Católica.
Todos esses fatores provocaram momentos de fortes tensões e criatividade no Instituto e nas experiências pastorais em nível local, diocesano e regional. Foi um tempo de forte questionamento e manifestações políticas e eclesiais, bastando lembrar a pressão dos alunos por formar comunidades inseridas nas periferias de Florianópolis. Em 1988 o ITESC recebeu a Visita Apostólica de Dom Ivo Lorscheiter, cujo relatório final denunciava algumas dificuldades momentâneas da Instituição ao lado de sua fidelidade eclesial e ortodoxia doutrinária.
Nesse rico período de crescimento e de contradições, foi decisiva a sabedoria e a humildade do episcopado catarinense que soube auscultar os sinais dos tempos sem soluções autoritárias. Prevaleceu compreensão e a mansidão com consequências positivas para o ITESC.
O Instituto Teológico conseguiu nestes trinta anos ser conservador sem ser tradicionalista, aberto sem progressismos, libertador sem ser libertário, universal e inserido na realidade local, romano sem ser papista. O ITESC viveu as crises e as alegrias do tempo histórico em que foi chamado a formar os presbíteros da Igreja catarinense.
O ITESC prestou um grande serviço à Igreja tendo formado já quase quatrocentos presbíteros e alguns bispos. Foi co-fundador da OSIB. Acolheu inúmeros leigos e religiosas que buscavam sua formação teológica, bem como ordens e congregações religiosas e dioceses de outros estados. Acrescente-se o funcionamento noturno do Curso de Teologia para leigos e leigas por diversos ano.
A titulação acadêmica no ITESC vem sendo assegurada nestes anos pelo Centro de Estudos superiores da Companhia de Jesus, de Belo Horizonte, com aprovação da Santa Sé.
Finalmente, ao longo dessas três décadas, o ITESC permaneceu em Sintonia com o espírito do Concílio Vaticano II, formando pastores a serviço do Povo de Deus integrando vida pastoral e mistério, história e transcendência, permanência e provisoriedade.
Escrito por: Pe. Pedro Adolino Martendal.

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