O
instituto Teológico de santa Catarina- ITESC (Florianópolis- SC)
A fundação do Instituto
teológico de Santa Catarina- ITESC em Florianópolis, no ano de 1973,
representou o coroamento de um longo, difícil e dedicado esforço. Em 1892, com
a criação da Diocese de Curitiba, abrangendo os territórios do Paraná e Santa
Catarina, o primeiro bispo Dom José de Camargo Barros provisoriamente optou por
continuar no Rio de Janeiro a formação filosófica e teológica dos candidatos ao
presbitério. Em seguida, porém, com a criação da Diocese de Florianópolis, em
1908, o primeiro bispo, Dom João Becker, tinha diante de seus olhos o mesmo
problema, resolvido positivamente com aceitação, pelos padres jesuítas, de
receber os seminaristas no Seminário Conceição, em São Leopoldo/RS, mesmo que
alguns candidatos tenham sido enviados a Mariana/ MG. Os jesuítas acolheram
paternalmente os catarinenses até a fundação do seminário Maior de Viamão, em
1954, pelo episcopado gaúcho, que aceitou, com a condição de provisoriedade,
formar o clero catarinense.
É muito importante salientar
que a formação generosamente oferecida pelos padres da Companhia de Jesus foi
notável no sentido de formar um clero religioso, eclesial, dedicado e fiel.
Foram esses padres que deram uma fisionomia própria à Igreja de Santa Catarina, a disciplina sempre ocupando um lugar
eminente, como o desejava Dom Joaquim Domingues de Oliveira, arcebispo entre
1914/1967.
O anúncio do Concílio em
1959 a sua abertura em 1962 fecundavam um desejo de renovação antes oculto e
agora colocado diante dos olhos com a bondade profética de João XXIII. Com o
final do Concílio vaticano II, repleto dos ventos da abertura ao mundo, do
entusiasmo eclesial e da renovação teológica, cria-se em 1965 o Paulinum, em
Curitiba, que viria ser o Seminário de formação presbiteral para todo o estado
de Santa Catarina.
O Concílio oferecia novos
horizontes eclesiais, pastorais e pedagógicos, lançando por terra as seculares
certezas e caminhos. Discutia-se agora a imagem e a missão da Igreja, do padre,
dos leigos. A preocupação teológica cede bom espaço à preocupação antropológica
e pastoral. Toda a admissão é pouca ao se analisar o esforço pedagógico dos
formadores e o empenho teológico dos professores. Os velhos manuais davam lugar
às novas apostilas, roteiros e experiências. Deste modo o Paulinum oferece à
Igreja catarinense um clero renovado e empenhado nas questões do mundo; um
clero pastoralista em busca de cautelosa desclericalização.
Todavia a Arquidiocese de
Florianópolis, através do seu arcebispo Dom Afonso Niehues, tinha claro que o
curso teológico cedo ou tarde passaria a ser ministrado em Florianópolis. Por
isso mantinha seis estudantes em Roma fazendo pós- graduação a construída em
Florianópolis um pequeno prédio para o Seminário Teológico, denominado Convívio
Emaús.
Finalmente em 1973 com muita
ousadia e simplicidade, tem inicio o Instituto Teológico de santa Catarina-
ITESC, com sede à Rua Deputado Edu Vieira n 600, bem próximo da Universidade
Federal de Santa Catarina. Foram sete décadas de projetos, materializados num
Instituto para formar o clero catarinense, com a participação de todas as
dioceses. A semente cresceu na unidade. Os bispos queriam um Instituto sério
academicamente e com forte acento pastoral na linha da conferência de Medellin,
comprometido com as transformações sociais, políticas e eclesiais.
Ressalta-se que o ITESC teve
inicio num período único da história da Igreja no Brasil, onde convergiam as
esperanças e desafios do Concílio Vaticano II, das Conferências do CELAM, da
Teologia da Libertação e das CEB’s, das posições proféticas da CNBB, do
processo de redemocratização do país, do pontificado de João Paulo II, do
fenômeno da pós- modernidade e do advento da Renovação Carismática Católica.
Todos esses fatores
provocaram momentos de fortes tensões e criatividade no Instituto e nas
experiências pastorais em nível local, diocesano e regional. Foi um tempo de
forte questionamento e manifestações políticas e eclesiais, bastando lembrar a
pressão dos alunos por formar comunidades inseridas nas periferias de
Florianópolis. Em 1988 o ITESC recebeu a Visita Apostólica de Dom Ivo
Lorscheiter, cujo relatório final denunciava algumas dificuldades momentâneas
da Instituição ao lado de sua fidelidade eclesial e ortodoxia doutrinária.
Nesse rico período de
crescimento e de contradições, foi decisiva a sabedoria e a humildade do
episcopado catarinense que soube auscultar os sinais dos tempos sem soluções
autoritárias. Prevaleceu compreensão e a mansidão com consequências positivas
para o ITESC.
O Instituto Teológico
conseguiu nestes trinta anos ser conservador sem ser tradicionalista, aberto
sem progressismos, libertador sem ser libertário, universal e inserido na
realidade local, romano sem ser papista. O ITESC viveu as crises e as alegrias
do tempo histórico em que foi chamado a formar os presbíteros da Igreja
catarinense.
O ITESC prestou um grande
serviço à Igreja tendo formado já quase quatrocentos presbíteros e alguns
bispos. Foi co-fundador da OSIB. Acolheu inúmeros leigos e religiosas que
buscavam sua formação teológica, bem como ordens e congregações religiosas e
dioceses de outros estados. Acrescente-se o funcionamento noturno do Curso de
Teologia para leigos e leigas por diversos ano.
A titulação acadêmica no
ITESC vem sendo assegurada nestes anos pelo Centro de Estudos superiores da
Companhia de Jesus, de Belo Horizonte, com aprovação da Santa Sé.
Finalmente, ao longo dessas
três décadas, o ITESC permaneceu em Sintonia com o espírito do Concílio
Vaticano II, formando pastores a serviço do Povo de Deus integrando vida
pastoral e mistério, história e transcendência, permanência e provisoriedade.
Escrito por: Pe. Pedro Adolino Martendal.
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